Oi pessoal, tudo bem ?
Vamos embarcar em mais um
“autotrabalho” através do conto de fadas?
Estamos falando aqui de
heroínas que se tornam mais fortes na medida em que enfrentam o que as
aprisiona, amedronta, ameaça. Estamos falando aqui de heroínas que conseguiram
abrir espaço para reconhecer suas sombras, sem, no entanto, sucumbir a elas. É um
ato de coragem, sem dúvida, porque traz em si fortes mudanças, não só para o
indivíduo em si, mas para todos aqueles que convivem com ele.
Neste sentido, a sombra
sempre desafia o herói. Ela o instiga a se autossuperar. Ela nos tira da zona
de conforto, parecendo para nós na figura de um vilão nos contos de fadas ou,
em nossos sonhos.
Olhar para a sombra é um
caminho sem volta rumo ao autodesenvolvimento, não apenas em termos
individuais, mas também em termos coletivos.
Trabalhar os contos de fada
nestes textos, através do livro “Mulheres que Correm com Lobos” tem esta
intenção: ajudar vc a reconhecer e a enfrentar seus ritos de autossuperação
através do enfrentamento da sombra sem sucumbir a ela, mas tirando dela a força
contida em seu interior e integrando-a de forma saudável a sua estrutura de
personalidade.
Hj vamos falar especialmente
sobre o despertar da Intuição, este saber maravilhoso da qual nós mulheres
somos as principais portadoras.
Clarissa começa o capítulo
3 do seu livro logo dizendo “A intuição é o tesouro da psique da mulher. Ela é
como um instrumento de adivinhação, como um cristal através do qual se pode ver
com uma visão interior excepcional. Ela é como uma velha sábia que está sempre
com você...”
Na medida em que
historicamente, o feminino foi sendo rebaixado a segundo plano e na medida em
que a racionalidade lógica e cartesiana foi sendo valorizada, fomos perdendo o
contato com este aspecto farejador de nós mesmos. Mas sinceramente, não vejo
como poderemos ser mulheres fortes e posicionadas sem que despertemos e nos
reconectemos a nossa Intuição.
“Jung uma vez observou que
nada jamais se perde na psique”. Que notícia maravilhosa! Tudo o que achamos
que perdemos de nós mesmas, na verdade, ainda faz parte de nós! No conto de
Vasalisa, que Clarissa nos traz, temos a orientação das tarefas iniciatórias a
serem cumpridas no despertar da Sábia Intuitiva.
A primeira tarefa é
permitir a morte da mãe-boa-demais. Interessante.... É permitir a morte da
parte condescendente e muito assustada de nós mesmas que nos mantém
infantilizadas e eternas menininhas... a parte de nós que nos protege de forma
excessiva, impedindo que possamos desenvolver a própria conscientização quanto ao
perigo, às intrigas, aos jogos de poder com os quais convivemos e... lógico,
conscientização de nossa força interior de nos posicionarmos no mundo. Esta é
também a mãe superprotetora na qual nos tornamos, na pessoa insubstituível sem
a qual os outros não vivem sem... Mas no fundo, sabemos que esta
mulher-boa-demais está sempre ameaçada de morte e isto aparece em seus sonhos,
sem dúvida.
A segunda tarefa é
denunciar a natureza sombria, descobrir que a natureza boazinha só nos fará
mais escravas dependentes de papéis e estereótipos que em nada tem a ver com
nossa essência, e que teremos que resgatar força através do que jogamos na
sombra e consideramos mal e agressivo. Aqui há uma tensão fundamental, um ponto
de escolha: sermos nós mesmas e nos
isolar dos outros ou sermos o desejo dos outros e nos isolarmos de nós mesmas?
É neste delicado momento
que temos que enfrentar a Madrasta dos contos de fada, nossos elementos
sombrios incutidos em nós através dos valores culturais caducos,
estereotipados, vazios de espontaneidade e autenticidade. É a parte de nós que
nos pressiona e nos diz que não sabemos fazer nada, que não servimos para nada
e por isso precisamos nos submeter, concentrando nosso olhar em tudo o que é
considerado imperfeito e inadequado para que não nos atentemos para a crueldade
que há nestas palavras.
Queremos nos adequar a esta
Madrasta e nos tornar escravas dela? Podemos ficar e servir para perpetuar algo
morto e que nos mata aos poucos ou podemos avançar na floresta, nos arriscar
para estruturar “uma nova vida baseada em conhecimentos interiores, mais
antigos, mais sábios”.
Na terceira etapa,
começamos a experimentar a sensibilidade intuitiva para deixar a mocinha frágil
e ingênua morrer ainda mais dentro de nós, transferindo sua energia para nossa
Sábia Intuitiva.
A mulher Intuitiva não nega
a visão, ela explora e não tem medo de fazer perguntas, tornando-se astuta,
fortalecendo os laços com a Sábia, emponderando-a com força e autoconfiança que
chega as suas entranhas, dá-lhe segurança de agir, certeza do foco e caminhadas
a passos largos.
De posse desta força, a
próxima etapa é encarar a Megera Selvagem, aquela que renegamos, para podermos
aprender a encarar um poder enorme nos outros e, lógico, nosso próprio poder.
Esta parte do conto me lembra o Arquétipo da Bruxa, uma mulher diferente, feia,
isolada, com profundos conhecimentos da Natureza e, exatamente por isso, muito
poderosa, capaz de mobilizar recursos na direção de seus objetivos e fazê-los
funcionar. É por esta Bruxa Arquetípica que temos que demonstrar respeito, é
com ela que precisamos aprender a mobilizar recursos a partir de uma leitura
profundamente honesta de si mesma, porém, muito longe de uma visão “boazinha
demais” e vazia de si.
Clarissa nos diz que “A
semelhança do termo selvagem, o termo
bruxa veio a ser compreendido como um
pejorativo, mas antigamente ele era uma designação dada às benzedeiras tanto
jovens quanto velhas, sendo que a palavra witch
( bruxa em inglês ) deriva do termo wit,
que significa sábio. Isso, antes que as religiões monoteístas suplantassem as
antigas religiões da Mãe Selvagem. De qualquer maneira, porém a ogra, a bruxa,
a natureza selvagem e quaisquer outras criaturas e aspectos que a cultura
considera apavorantes nas psiques das mulheres são exatamente as bênçãos que
elas mais precisam resgatar e trazer à superfície”. Não é à toa que vilãs
exercem forte magnetismo sobre nós...
Não apenas os homens, mas
nós mesmas temos medo deste poder em nós. As forças femininas nos causam
espanto e, lógico, nós as empurramos para nossa sombra, esperando,
ingenuamente, que nunca nos incomodem... ah...não poderíamos estar mais
enganadas... Nosso Inconsciente não se deixa enganar tão facilmente e várias
criaturas em nossos sonhos irão nos fazer recordar de nossa força enigmática.
Na quinta tarefa, então,
reconhecemos nosso poder, nosso poder, nossa resiliência. Ao assumir nossa
capacidade, então nos percebemos imediatamente capazes de separar, consertar e
renovar, manter o ambiente psíquico organizado para que possa completar suas
ideias e projetos, ser produtiva. Espaço para contemplar, dançar, pintar,
meditar, mergulhar em si mesma e se autotransformar. Abrir espaços livres para
que possa arder com paixão, palavras, ideias realizadoras e profundas de
significado. Preparar novos rumos, dar novos significados, planejar,
fomentar...
“Limpar nosso pensamento,
renovar nossos valores com regularidade, eliminar da nossa psique as
insignificâncias, varrê-las, purificar nossos estados de pensamento e sentimento
com regularidade. Acender a fogueira criativa e cozinhar ( maturar ) ideias num
ritmo sistemático e especialmente cozinhar ( maturar ) muito para alimentar o
relacionamento entre nós mesmos e a natureza selvagem“...
É... um trabalho bem
exigente... e bem diferente daquele da menininha-boa-demais... mas é através
deste trabalho profundo que aprendemos a não nos “intimidar diante da escala do
grande, do poderoso, do cíclico, do imprevisto, do inesperado, do vasto e do
imenso”.
Então, diga-me... O que vc
quer ?
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