quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Resgatando a Intuição e a Autonomia Emocional

Oi pessoal, tudo bem ?
Vamos embarcar em mais um “autotrabalho” através do conto de fadas?
Estamos falando aqui de heroínas que se tornam mais fortes na medida em que enfrentam o que as aprisiona, amedronta, ameaça. Estamos falando aqui de heroínas que conseguiram abrir espaço para reconhecer suas sombras, sem, no entanto, sucumbir a elas. É um ato de coragem, sem dúvida, porque traz em si fortes mudanças, não só para o indivíduo em si, mas para todos aqueles que convivem com ele.
Neste sentido, a sombra sempre desafia o herói. Ela o instiga a se autossuperar. Ela nos tira da zona de conforto, parecendo para nós na figura de um vilão nos contos de fadas ou, em nossos sonhos.
Olhar para a sombra é um caminho sem volta rumo ao autodesenvolvimento, não apenas em termos individuais, mas também em termos coletivos.


Trabalhar os contos de fada nestes textos, através do livro “Mulheres que Correm com Lobos” tem esta intenção: ajudar vc a reconhecer e a enfrentar seus ritos de autossuperação através do enfrentamento da sombra sem sucumbir a ela, mas tirando dela a força contida em seu interior e integrando-a de forma saudável a sua estrutura de personalidade.
Hj vamos falar especialmente sobre o despertar da Intuição, este saber maravilhoso da qual nós mulheres somos as principais portadoras.
Clarissa começa o capítulo 3 do seu livro logo dizendo “A intuição é o tesouro da psique da mulher. Ela é como um instrumento de adivinhação, como um cristal através do qual se pode ver com uma visão interior excepcional. Ela é como uma velha sábia que está sempre com você...”
Na medida em que historicamente, o feminino foi sendo rebaixado a segundo plano e na medida em que a racionalidade lógica e cartesiana foi sendo valorizada, fomos perdendo o contato com este aspecto farejador de nós mesmos. Mas sinceramente, não vejo como poderemos ser mulheres fortes e posicionadas sem que despertemos e nos reconectemos a nossa Intuição.
“Jung uma vez observou que nada jamais se perde na psique”. Que notícia maravilhosa! Tudo o que achamos que perdemos de nós mesmas, na verdade, ainda faz parte de nós! No conto de Vasalisa, que Clarissa nos traz, temos a orientação das tarefas iniciatórias a serem cumpridas no despertar da Sábia Intuitiva.
A primeira tarefa é permitir a morte da mãe-boa-demais. Interessante.... É permitir a morte da parte condescendente e muito assustada de nós mesmas que nos mantém infantilizadas e eternas menininhas... a parte de nós que nos protege de forma excessiva, impedindo que possamos desenvolver a própria conscientização quanto ao perigo, às intrigas, aos jogos de poder com os quais convivemos e... lógico, conscientização de nossa força interior de nos posicionarmos no mundo. Esta é também a mãe superprotetora na qual nos tornamos, na pessoa insubstituível sem a qual os outros não vivem sem... Mas no fundo, sabemos que esta mulher-boa-demais está sempre ameaçada de morte e isto aparece em seus sonhos, sem dúvida.
A segunda tarefa é denunciar a natureza sombria, descobrir que a natureza boazinha só nos fará mais escravas dependentes de papéis e estereótipos que em nada tem a ver com nossa essência, e que teremos que resgatar força através do que jogamos na sombra e consideramos mal e agressivo. Aqui há uma tensão fundamental, um ponto de escolha: sermos nós mesmas e nos isolar dos outros ou sermos o desejo dos outros e nos isolarmos de nós mesmas?
É neste delicado momento que temos que enfrentar a Madrasta dos contos de fada, nossos elementos sombrios incutidos em nós através dos valores culturais caducos, estereotipados, vazios de espontaneidade e autenticidade. É a parte de nós que nos pressiona e nos diz que não sabemos fazer nada, que não servimos para nada e por isso precisamos nos submeter, concentrando nosso olhar em tudo o que é considerado imperfeito e inadequado para que não nos atentemos para a crueldade que há nestas palavras.
Queremos nos adequar a esta Madrasta e nos tornar escravas dela? Podemos ficar e servir para perpetuar algo morto e que nos mata aos poucos ou podemos avançar na floresta, nos arriscar para estruturar “uma nova vida baseada em conhecimentos interiores, mais antigos, mais sábios”.
Na terceira etapa, começamos a experimentar a sensibilidade intuitiva para deixar a mocinha frágil e ingênua morrer ainda mais dentro de nós, transferindo sua energia para nossa Sábia Intuitiva.
A mulher Intuitiva não nega a visão, ela explora e não tem medo de fazer perguntas, tornando-se astuta, fortalecendo os laços com a Sábia, emponderando-a com força e autoconfiança que chega as suas entranhas, dá-lhe segurança de agir, certeza do foco e caminhadas a passos largos.
De posse desta força, a próxima etapa é encarar a Megera Selvagem, aquela que renegamos, para podermos aprender a encarar um poder enorme nos outros e, lógico, nosso próprio poder. Esta parte do conto me lembra o Arquétipo da Bruxa, uma mulher diferente, feia, isolada, com profundos conhecimentos da Natureza e, exatamente por isso, muito poderosa, capaz de mobilizar recursos na direção de seus objetivos e fazê-los funcionar. É por esta Bruxa Arquetípica que temos que demonstrar respeito, é com ela que precisamos aprender a mobilizar recursos a partir de uma leitura profundamente honesta de si mesma, porém, muito longe de uma visão “boazinha demais” e vazia de si.
Clarissa nos diz que “A semelhança do termo selvagem, o termo bruxa veio a ser compreendido como um pejorativo, mas antigamente ele era uma designação dada às benzedeiras tanto jovens quanto velhas, sendo que a palavra witch ( bruxa em inglês ) deriva do termo wit, que significa sábio. Isso, antes que as religiões monoteístas suplantassem as antigas religiões da Mãe Selvagem. De qualquer maneira, porém a ogra, a bruxa, a natureza selvagem e quaisquer outras criaturas e aspectos que a cultura considera apavorantes nas psiques das mulheres são exatamente as bênçãos que elas mais precisam resgatar e trazer à superfície”. Não é à toa que vilãs exercem forte magnetismo sobre nós...
Não apenas os homens, mas nós mesmas temos medo deste poder em nós. As forças femininas nos causam espanto e, lógico, nós as empurramos para nossa sombra, esperando, ingenuamente, que nunca nos incomodem... ah...não poderíamos estar mais enganadas... Nosso Inconsciente não se deixa enganar tão facilmente e várias criaturas em nossos sonhos irão nos fazer recordar de nossa força enigmática.
Na quinta tarefa, então, reconhecemos nosso poder, nosso poder, nossa resiliência. Ao assumir nossa capacidade, então nos percebemos imediatamente capazes de separar, consertar e renovar, manter o ambiente psíquico organizado para que possa completar suas ideias e projetos, ser produtiva. Espaço para contemplar, dançar, pintar, meditar, mergulhar em si mesma e se autotransformar. Abrir espaços livres para que possa arder com paixão, palavras, ideias realizadoras e profundas de significado. Preparar novos rumos, dar novos significados, planejar, fomentar...
“Limpar nosso pensamento, renovar nossos valores com regularidade, eliminar da nossa psique as insignificâncias, varrê-las, purificar nossos estados de pensamento e sentimento com regularidade. Acender a fogueira criativa e cozinhar ( maturar ) ideias num ritmo sistemático e especialmente cozinhar ( maturar ) muito para alimentar o relacionamento entre nós mesmos e a natureza selvagem“...
É... um trabalho bem exigente... e bem diferente daquele da menininha-boa-demais... mas é através deste trabalho profundo que aprendemos a não nos “intimidar diante da escala do grande, do poderoso, do cíclico, do imprevisto, do inesperado, do vasto e do imenso”.

Então, diga-me... O que vc quer ?

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