sábado, 1 de abril de 2017

Quando Nos Entregamos Demais ...

Muitas vezes, nutrimos dentro de nós uma criança que está sempre se perguntando "Gostarão de mim?". Essa criança, acalentada em nosso interior, tem a necessidade marcante de afeição e aprovação. É a parte de nós que simplesmente quer se sentir amada, protegida e importante para alguém.

Essa nossa criança aprendeu que ganharia carinho e segurança se satisfizesse os desejos alheios, desenvolvendo assim um sensível radar pessoal para a detecção de estados de espírito e de preferências individuais, alheias as suas.
Na medida em que a personalidade foi se formando, e essa criança foi se tornando um indivíduo, aprendemos a adaptar nossos sentimentos aos interesses alheios já que, ao adaptá-los, garantiríamos aceitação, proteção e afeto.
Assim, os relacionamentos foram, gradativamente, se tornando uma parte fundamental da nossa vida e direcionadora dos nossos comportamentos enquanto adultos, levando-nos muitas vezes a estruturar relacionamentos com pessoas poderosas e que, muitas vezes, tendo como principal tônica a perda da identidade pessoal, a fim de nos tornarmos a personalidade que mais agradasse ao parceiro.
Normalmente, começamos um relacionamento vivenciando aspectos de nós mesmos que alimentam as necessidades do parceiro. As fases posteriores são dominadas pelo sentimento de sermos controlados pela vontade do parceiro, aliado a um desejo opressivo de liberdade, ao qual nos sentimos fracas demais para ouvir.
Um conflito começa a se formar dentro de nós, entre a sensação de estar se perdendo, de precisar se sentir indispensável para o outro e um desejo irresistível de Liberdade e Autonomia.
E esse é um passo importantíssimo na recuperação da Essência, porque, normalmente, a Essência de uma pessoa afetivamente muito doadora é a Essência de uma pessoa com um profundo senso de Liberdade e Não-julgamento.
Mas, apesar de virmos com esta Essência, o que percebemos dentro de nós, ao contrário, é a angústia da dependência afetiva, é a sensação de que morreremos se ficarmos sem o outro que escolhemos amar.
O que percebemos e sentimos dentro de nós é a necessidade desesperada de controlar o relacionamento, a partir da crença ingênua de que os outros dependem de nós, nos colocando numa terrível armadilha de co-dependência.
Nossa profunda sensibilidade é usada apenas para satisfazer os desejos alheios e, neste processo, entramos numa espécie de amortecimento das nossas próprias necessidades, e acreditamos que somos tão incríveis que simplesmente daremos um jeito. O outro sempre será prioridade.
Dois grandes estereótipos, para nós mulheres, são a mãe manipuladora e a mulher que não consegue se ver além do papel se sedutora. O que há em comum em ambos é a necessidade de chamar a atenção sobre si através da troca manipulatória, onde a identidade e a liberdade de si e do outro não conta. Tudo o que se tem, na verdade, é um grande vazio interior.
Particularmente para a mulher que se restringe ao estereótipo sexualizado, muito provavelmente vivenciou uma infância na qual foi eleita como “a princesinha do papai”, trazendo um conteúdo sexual para o relacionamento, de forma tão pesada que a criança precisou abafar através da limitação da entrega afetiva. Por outro lado, deixar de fazer o papel de “princesinha do papai”, no inconsciente ingênuo da criança, seria o equivalente a abrir mão do amor do pai. E isso, para uma criança, é muito forte e assustador. Em função dessa dinâmica, tememos a intimidade, embora a sensualidade esteja presente de uma forma insinuadora e sutil.
O relacionamento com o pai é projetado no novo relacionamento amoroso, com o perigo ainda de abrirmos mão de nossa individualidade para sustentar o relacionamento que, dentro desta configuração, acaba sendo o relacionamento de uma pessoa só: o do parceiro dominante. E o pior, acreditando com todas as nossas forças que somos indispensáveis nessa dinâmica !
Esse “orgulho” não nada a ver com autoestima, não se baseia nas próprias capacidades realizadoras, mas numa profunda sensação de vazio interior angustiante.
A saída deste padrão passa pelo reconhecimento  da a aceitação dos limites do corpo, das suas capacidades. O corpo sabe exatamente o que pode e o que não pode fazer, reconhecendo nosso real posicionamento na maravilhosa escala cósmica. A partir do corpo, podemos nos centrar em nós mesmos, em nossas necessidades concretas, em nossa capacidade de sermos capazes preencher nossas necessidades a partir de nossos próprios recursos emocionais.
No processo de cura e de retomada da nossa Essência, termos que perceber o quanto a nossa autoestima balança de acordo com o fato de nos sentirmos amadas ou rejeitadas por aquela pessoa importante em nossas vidas; perceber que, lá no fundo, nosso amor-próprio é quase nulo.
Será necessário vermos que a rejeição alheia nos abala tanto porque confirma a nossa própria autorrejeição, e teremos de compreender, sob o ponto de vista psicodinâmico, de que modo essa maneira de relacionar-se conosco veio em decorrência dos condicionamentos da infância que precisarmos remodelar.
Assim, desenvolvermos a postura Humilde de cuidar de nós mesmos e ficarmos cada vez mais centrados dentro de nós mesmos, diminuindo cada vez mais nossa terrível dependência do amor alheio como se não pudéssemos existir fora disso.
Quanto mais nos abrirmos para nós mesmas, tanto mais aceitaremos os outros e seremos verdadeiramente capazes de dar e receber o amor pelo qual ansiávamos desesperadamente. Seremos capazes de desapegar-nos de nós mesmas, abrindo-nos verdadeiramente à realidade e unindo-nos, nesse processo, com a nossa natureza mais profunda.

E a nossa natureza mais profunda, nossa Essência, é a Essência da Liberdade, da profunda sensação interior que a verdadeira doação é livre e desinteressada, não necessitando de reconhecimento ou criação de vínculo entre quem doa e quem recebe. A simples existência já é nutrição suficiente para sentir-se amada por si mesma.
Um beijo !

Salma


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4 comentários:

  1. Perfeita reflexão, me reconheci neste texto...

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    1. Obrigada pelo comentário e pela presença ! Que bom que as palavras escritas ajudaram em seu processo de evolução e autoconhecimento ! bjs !!!

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  2. Muito bem escrito. Texto muito esclarecedor!

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