Durante o ano de 2017, tive o privilégio de trabalhar com uma
paciente portadora de fibromialgia.
Hj, quero compartilhar esta jornada com vcs.
Ermínia, nome fictício dado à paciente, estava com 57 anos de
idade quando me procurou. Solteira, funcionária pública aposentada, residia
sozinha em seu apartamento em São Paulo.
Diagnosticada com fibromialgia, sentia dores terríveis no corpo,
principalmente em dias frios. Nestas ocasiões, era preciso uma hora para que
conseguisse levantar-se da cama.
Líder nata, mente ágil e muito inteligente, não conseguia ter em
seu corpo físico, a mesma agilidade de seu corpo mental.
Uma de suas queixas era a de que não conseguia limpar seu apartamento,
apesar de perfeccionista. Ouvindo sua história de vida, a coerência simbólica
entre sua vida e a limpeza/sujeira do apartamento ia ficando cada vez mais
coerente.
A nossa psique desprovida da capacidade criativa favorece a doença
manifestada no corpo físico, nos diz Betty Fontes, prefaciando o livro “Arteterapia
e o Corpo Secreto”. Há uma alquimia a
ser construída e operada dia-a-dia paciente e disciplinadamente, como em
banho-maria, para que possamos redescobrir a verdadeira natureza no corpo
adoecido: a Sagrada. A natureza do Infinito Espírito que escolheu o corpo de Gaia
como forma de operacionalizar essa construção do Si Mesmo.
Nosso corpo físico tem a maravilhosa linguagem do não-julgamento,
uma linguagem que vem como bálsamo para nosso processamento mental torturante.
O corpo simplesmente está, ele simplesmente é. Ele existe no nível mais
concreto da existência e é através dele e, somente através dele, nesta
dimensão, que podemos dar corporeidade aos nossos sonhos. Não há realização sem
corpo. Então, no que se refere à polaridade saúde/doença ele é o nosso
professor mais óbvio. Repare em suas sensações corporais quando vc sorri e
perceba seu corpo na raiva. O que me diz? O corpo visível é o mesmo, mas o
invisível, bioquímico é completamente diferente. E é deste corpo invisível,
porém perceptível e “escutável” que quero trazer aqui para nossa conversa.
Nosso corpo é o nosso lar, é onde vivemos e a partir de quem
aprendemos a viver, desde quando éramos um bebezinho no útero de nossas mães.
“As experiências vividas deixam sinais em nosso corpo que ficam em
estado de latência, de forma que algo acontecido há muito tempo possa ser
revivido como se houvesse acabado de acontecer. Dessa forma, deixamos de viver
simplesmente o momento presente, fixados que estamos ao passado por meio desses
registros” e que não se movimentaram, nos diz Irene Arcuri, autoria do livro
que citei mais acima.
“Os sinais assim deixados no cropo podem ser comparados a feridas
antigas, não-cicatrizadas, que dão origem a doenças piscossomáticas, o que
impede um desenvolvimento” do Ser em Si.
A paralisia de nossos pensamentos e nossos sentimentos em torno de
temas únicos que se repetem num looping enlouquecedor ganha concretude na
paralisia de nossos músculos, congelando nossos movimentos corporais, numa
eterna e irônica brincadeira de “estátua”. Congelamos nossos corpos no terror
da ameaça. É uma reação de defesa e preservação da sobrevivência que
compartilhamos com nossos colegas do reino animal.
Em várias sessões de atendimento, Ermínia tinha a percepção de faixas
apertadas atando suas pernas, como se estivesse sendo mumificada. Veja a
profundidade dessa imagem simbólica. O impedir-se de caminhar na Terra, do ir
de lá para cá e de cá para lá, a impossibilidade do atuar no mundo. A imagem associada
de algo sem vida: sendo mumificada. Morta em vida. Não à toa. Ermínia vivenciou
espisódios terríveis com seu pai, extremamente violento e abusivo sexualmente.
Sim. Ermínia havia sido violentada sexualmente pelo próprio pai.
A fibromialgia carregava de maneira crônica essa simbologia da
paralisia no terror. Ermínia era um ser-objeto. Objetos não se movimentam,
certo? E nosso sistema musculo-esquelético é ator principal em nossa movimentação
no mundo. Nada mais lógico do que travar esse sistema, assim, continuo objeto.
Diz Arcuri: “O corpo que não ‘fala’ está aprisionado em suas tensões,
que provocam deformações, e fica com a energia ‘estagnada’, pois esse processo
geralmente é inconsciente. É como se a alma ficasse prisioneira num corpo
trancado, rígido e sua tentativa de libertação poderia ser chamda de ‘doenças’.”
Doenças são gritos
da sua alma que se sente aprisionada por padrões que em nada tem a ver com a
sua essência. E é aqui, extamente aqui, que reside toda a beleza do
processo criativo da cura.
Vamos entender que apesar de biologicamente uma doença física ser estatisticamente
igual a todas as outras com o mesmo conjunto de sintomas e aspectos descritivos
e evidências, o seu significado é bem diferente de pessoa para pessoa. A doença
orgânica normalmente tem uma finalidade e um significado singulares, geralmente
nos mostrando aquilo que nos falta, aquilo que está escondido naquilo que chamamos
de sombra. Sombra aqui é um termo que está sendo usado como potencial de
recursos que, por estarem no escuro, não conseguimos ter acesso direto, assim, “por
meio do corpo, todo sintoma força o ser humano, apesar de seus esforços em contráro,
a manifestar alguns dos princípios que, deliberadamente, havia optado por não
viver, isso estabelece o equilíbrio” ( Dethlefesen e Dalke em A doença como caminho ).
A Psicologia nos diz que a construção do significado de nossos
corpos começa antes mesmo de nossa concepção. Começa nas expectativas funcionais
ou disfuncionais que o inconsciente de nossa família modela holograficamente e
que permeará nosso lugar no mundo. Na medida em que vamos crescendo, famos
também adqurindo, de alguma forma, consciência da diferença entre a expectativa
familiar projetada sobre nós e aquilo que nossa Essência deseja para si (
nossos sonhos de criança, motivos que fazem nosso coração pulsar, os olhos brilharem,
a sensação de que expandimos e conversamos com a Vida ).
Lógico é que corremos o risco que não conseguirmos romper com esse
programa que nos é dado e ficamos fixados à imagem que nossa família tem de
nós.
Tanto na fibromialgia, como na DTM ( Disfunção Temporo-Mandibular
), ambas doenças que atingem o sistema musculo-esquelético, a imagem projetada
é a do perfeccionismo. Não há nada mais congelante, anti-criativo e desprovido
de movimento do que o perfeccionismo. As pernas, envoltas em faixas, são
remodeladas a partir de aspectos externos e exteriores, uniformizadas, sem
suor, sem pulsação, sem expressão. São pernas que ficam encaixadas, assim como
nossa alma o fica no perfeccionismo.
A depressão, normalmente associada à essas doenças, traz a
simbologia do afeto reduzido, do viver aquém do que se é verdadeiramente capaz,
é a condenação de se viver aquém do próprio potencial. Lógico! Potência é algo
da Alma, é algo absolutamente Individual. Não é do perfeito pasteurizado-encaixado-empacotado-enfaixado-mumificado.
No entanto, o perfeccionismo não é algo que simplesmente tiramos
de nós e jogamos fora. Há um outro caminho para lidarmos com ele: o da criação
a partir dele.
Ao criarmos algo, nossa Alma é colocada em movimento, empurrando
nosso corpo físico para fora da zona de congelamento e inércia, porque a
bioquímica do entusiasmo é ativada. Estar em entusiasmo é estar plena de Deus.
O perfeccionismo funciona melhor quando passamos a olhar para ele
como uma experiência vivencial. Como um
modo de ser e não como único modo de
ser. Essa é a semente criativa da renovação.
Desenvolvendo nossa capacidade criativa podemos conseguir transformar
qualquer tipo de situação. Mesmo os momentos difíceis da vida, como a dor (
emocional e cronificada no corpo ) possibilitam uma evolução e um crescimento. É
como segurar a vida com as próprias mãos, deixando os sentimentos de culpa de
lado, parando com as lamentações, vencendo a timidez. Apenas experimentando
esse caminho sagrado, simplemsnte ivendo o mistério da vida no corpo sem se
controlar os resultados de tudo. Não se preocupe. Seu corpo tem um sistema
interno de autogerenciamento maravilhoso! Você tem acesso à potencia criativa
do seu inconsciente através do seu corpo!
“Vosso coração conhece em silêncio os segredos dos dias e das
noites. Mas vossos ouvidos anseiam por ouvir o que vosso coração sabe”, nos diz
Gibran em sua sensibilidade profunda e verdadeira. Ouça-o. Não há transformação
psíquica sem escuta do corpo, sem escuta de você.
Vou aqui te dar uma simbologia interpretativa que pode começar a
te ajudar nesse processo. É generalista, então provavelmente haverá partes dela
que ressoarão em vc e outras que não, ou até nenhuma delas ou todas elas.
Bem... vamos ver, não é ? Mas a ideia é ajudar a perceber a potencia criativa
que há na fibromialgia.
O sistema muscular, em Alquimia, está associado ao elemento Terra.
Pense a Terra. Veja a terra árida do sertão. Veja a terra mole da argila. Veja
a terra fofa das plantações. São estados de Terra em algumas de suas combinações:
terra com fogo, terra com água e terra com ar. Diga-me: o que é a carne seca? É
músculo desidratado, certo. Qual a aparência de uma carne seca? Algo duro, sem
flexibilidade, sem a possibilidade do movimento a não ser que seja reidratado
de alguma maneira. Em linguagem alquímica, diríamos que é uma Terra
Tartarizada, a terra de um único caminho. é um excesso de terra, portanto, e
escassez de água.
A água associa-se à emoções, sensibilidade, flexibilidade. Secamos
a água através do fogo, do calor, do Sol excessivo. A raiva da castração
secando a água da emoção e tartarizando a terra em uma única posição: essa é
uma descrição em linguagem alquímica do que pode ser descrito como
fibromialgia.
Agora, o que é interessante retomar aqui, pois já falamos um pouco
sobre isso em post anterior (veja o post em destaque), é que parece haver uma linha comum entre Signos de
Terra destacados no Mapa Astrológico e padrão comportamental perfeccionista, DTM
e/ou fibromialgia. Não estou falando aqui de uma pesquisa científica, mas de
experiência empírica de consultório.
No caso de Ermínia, isso era assustadoramente evidente. Agora,
veja, em Astrologia, todos signos de Terra guardam em si associação direta com
o cuidar da Natureza, da Mãe Terra. Eles falam de trabalho corporal, falam
muito de trabalho manual, artesanato, por exemplo.
Sim, a Terra estrutura, dá forma, impõe limites, demanda
concretização. Temperada com água e ar, permite que a semente, absorvendo luz
do sol e na magia da fotossíntese, torne-se berço da vida que alimenta a vida. E
é esse cuidado com a própria terra que o Mapa de Erminia estava exigindo dela.
Assim, como parece exigir de todas as pessoas com signos de terra destacados no
Mapa, em maior ou menor grau.
A conexão com movimentos ecológicos de cura da Mãe-Terra, com os
ciclos da Lua, com equinócios e solstícios, com as formas de arte, artesanato
ou “arteirices”, escutar sons graves que te colocam mais em contato com a segurança
do chão, práticas de grownding, movimentar-se lenta a vagarosamente como uma
tartaruga ou um bicho-preguiça em movimentos que mais parecem um espreguiçar-se
numa profunda respiração... São formas de um novo posicionamento, de um novo
olhar para si menos retilíneo e mais suavizado pela beleza das curvas.
Na fibriomialgia, a criança foi congelada no terror e impedida de
vivenciar sua ingenuidade criativa. Traga-a de volta e você verá sua fibromialgia
derreter-se dia-a-dia.
Ah... sim... Ermínia... ingressou no pilates, começou a resolver
questões burocráticas e afetivamente dolorosas em relação ao inventário de seu
pai... e está trabalhando ativamente na aceitação das diferenças.
Um beijo grande!
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