Em termos astrológicos,
estamos caminhando para os últimos meses de um ano de Saturno, dentro de um
Ciclo maior de 36 anos que serão regidos por Saturno. Isto não é novidade,
correto? Este é um assunto bem comentado entre o pessoal que curte Astrologia.
Saturno é o Arquétipo
diretamente relacionado a autorresponsabilidade e durante estes 35/36 anos
vindouros este parece ser o grande enfoque cósmico para nós, em termos de
trabalho pessoal e coletivo.
Sob esta ótica, as crises
que vivemos do ponto de vista individual, social, econômico, político e
religioso, trazem consigo a força da mudança de paradigmas e profunda
reconstrução de valores internos.
Desde 10 de novembro de
2017, Júpiter - que será o regente astrológico a partir de 20 de março de 2018 -
entrou em Escorpião, trazendo consigo a interação dinâmica da luz sobre o ciclo
morte e renascimento das transformações, ressaltando então a vivência da crise,
porém com um pouco mais de leveza e orientação. Júpiter em Escorpião fala da fé
na capacidade de abrir mão, de morrer um pouco na Água das Transformações.
Mas não paramos por aí. Em 20
de dezembro de 2017, Saturno entra em Capricórnio, intensificando o tema da
autorresponsabilidade. Mas... autorresponsabilidade em relação ao que?
Como é que se junta tudo
isso ?
Há uma resposta simples em
termos de escrita e absurdamente desafiadora em termos de prática vivida:
responsabilidade em relação a sermos mais de nós mesmos a partir de nossas
escolhas no cotidiano. Ser o si mesmo é uma dinâmica constante de um eterno
autotransformar-se no caminho em direção à essência do Ser.
Essa é a grande meta de
todo e qualquer indivíduo terreno e é com ela que temos que nos confrontar.
Jung, um dos grandes
mestres da humanidade, integra meta e transformação de forma belíssima quando
nos diz que “A meta é importante apenas como uma ideia; o essencial é a opus que leva à meta. Esta é a meta de
toda uma vida.”
Este é um trabalho
profundamente alquímico, no sentido de que nos permitimos a transformação no
processo de alcançar a meta. E penso que aqui está o grande segredo para que
nossa vida não caia num clichê vazio e inexpressivo.
Vc já reparou no caminhar?
Vc já reparou que entre um passo e outro, vc fica por segundos sobre um pé só,
meio suspenso? Experimente ampliar este processo... experimente torna-lo mais
consciente, menos automatizado pelo dia-a-dia...
Perceba que enquanto vc não
tem os dois pés firmes no chão, vc pode escolher qualquer caminho, qualquer
direção ( inclusive cair ) e, neste processo, optar pelo novo.
A partir de quais caminhos
vc alcança a sua meta? É sempre a partir de um caminhar retilinio, marchado,
cadenciado? Ou vc se permite a possibilidade de descobrir novas formas do
caminhar? Neste processo, vc se permite se transformar?
Simbolicamente, esse é um
trabalho que ocorre a partir de um processo orgânico, na terra úmida e escura
de Saturno, mobilizado pelas águas densas e inconscientes de Escorpião, mas
embasado pela profunda sensação de confiança de Júpiter.
James Hillman, um
maravilhoso estudioso de Jung, nos diz em seu denso livro “Psicologia
Alquímica”, que “O trabalho ocorre nas profundezas do mar, onde a luz não
alcança, dentro da ostra hermeticamente fechada. Então ele deve ser pescado e
aberto, extraído. Não é suficiente ter uma pérola nas profundezas do oceano,
não é suficiente ser presenteado com riquezas e abençoado com talentos. Pois
eles podem se manter lá, ainda lacrados na ostra quando estivermos lacrados
para sempre num caixão. É uma ‘meta difícil de se alcançar’ – deve ser
trabalhada assim como o faz a ostra, e é preciso que se mergulhe para
apanhá-la, profundamente, em águas que dissolvem.”
Dissolvem? Sim... dissolvem
nossas certezas, nossas estruturas corroídas, anacrônicas, não funcionais... é
para isso que Saturno nos acorda.
Mas é preciso coragem para
isso! Há que se ter coragem para acordar!
E por isso Júpiter vem em
nosso socorro, estimulando-nos a continuar nesse processo infinito de
autodescoberta. “O homem revelado é o homem conhecido”, nos diz Hillman, “como
se o autoconhecimento somente o fosse verdadeiramente no ato de revelar-se como
se a transparência fosse continência. Minha substância é a minha aparência”.
Isso é autorresponsabilidade. É o conhecer-se tanto e tão profundamente que a
única alternativa que se tem é o assumir-se completamente, assumir-se ser
responsável por seus sentimentos, pensamentos, escolhas, por ser quem se é, sem
que haja necessidade de verdades interiores escondidas por detrás da pretensão
exterior.
O diamante é o carbono em
seu mais perfeito estado de interação. Quando na terapêutica alquímica
precisamos lidar com o pretume do carbono-carvão que afasta o eu do si-mesmo,
trabalhamos intensamente com o diamante: a claridade aperfeiçoada.
Transformar carvão em
diamante que reluz... passo a passo... esse é um belo trabalho, não ?
Mas... deixe-me dizer algo:
nossa mente não funciona de modo linear. Ao contrário! Ela é holográfica,
comandando um aparato biológico para o qual o tempo é um eterno presente.
Então... saia da ilusão de
metas fixas... elas não existem, a não ser como pensamento criado por uma mente
que é absolutamente circular e holográfica.
A beleza de estabelecer uma meta é que vc desperte através dela
e não com a meta colocada em algum lugar lá fora clamando por realização, mas a
partir de vc dentro da meta !
Se vc passar a encarar sob
este olhar, crises virão e passarão e vc irá aprender a se divertir com elas,
porque elas sempre te mostrarão lados de vc que vc não imaginava existir e
justamente por isso, poderá se transformar, se reconhecer, crescer em
multiplicidade num eu capaz cada vez mais de se apropriar do si-mesmo.
Já que estamos em crise,
que a crise te transforme num belo diamante !
Um beijo grande !