sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Coerência interna, autoaceitação profunda, não-julgamento como chaves para “Tornar-se Pessoa” ... Apresentando Carl Rogers

Carl Rogers foi um psicólogo norte-americano. Desenvolveu a Psicologia Humanista, também chamada de Terceira Força da Psicologia. Segundo o psicólogo Abraham Maslow, Carl Rogers foi um dos principais responsáveis pelo acesso e reconhecimento dos psicólogos ao universo clínico, antes dominado pela psiquiatria médica e pela psicanálise vigente na época.


Carl Rogers (1902-1987) nasceu em Oak Park, Illinois, nos Estado Unidos, no dia 8 de janeiro de 1902. Era o filho do meio de uma família protestante, onde os valores tradicionais e religiosos, juntamente com o incentivo ao trabalho duro eram amplamente cultivados.
Olhando para este contexto, comentou “Algo da atmosfera familiar mansamente repressiva é talvez indicado pelo fato de que três de seis filhos tiveram úlcera em algum período de suas vidas.”
Sua meninice foi vivida em isolamento. No colegial tornou-se excelente estudante, mas foi na Universidade que suas experiências começaram a ganhar maior significado.
Em seu segundo ano de faculdade, começou a estudar para o ministério religioso. No ano seguinte, foi para a China para assistir a uma conferência da Federação Mundial de Estudantes Cristãos em Pequim; a isto, seguiu-se uma excursão pela China Ocidental. Esta viagem tornou usas atividades religiosas fundamentalistas mais liberais e proporcionou-lhe a primeira oportunidade de desenvolver independência psicológica, uma marca que caracterizou seu pensamento pelo resto de sua vida e, mais do que isso, caracterizou profundamente seu olhar sobre o Ser Humano.
Muito embora tenha começado seus estudos universitários pela Teologia, optou por concluí-los em Psicologia e foi, neste curso, que se sentiu agradavelmente surpreso ao descobrir que poderia ser imensamente útil fora da igreja, trabalhando junto a pessoas que precisavam de ajuda - e é isto que nos move, enquanto terapeutas ...
Seu primeiro emprego foi em Rochester, Nova York, num centro de orientação infantil. Durante os doze anos em Rochester ajudaram-no a perceber configurações do que seriam seus principais conceitos teóricos.
Em 1945. A Universidade de Chicago ofereceu-lhe a oportunidade de estabelecer um novo centro de aconselhamento baseado em suas ideias.
Em 1951 publicou Terapia Centrada no Cliente, com sua primeira teoria formal sobre a terapia, sua teoria da personalidade e algumas pesquisas que reforçaram suas conclusões. Neste livre sugere que a maior força orientadora da relação terapêutica deveria ser o cliente, não o terapeuta! Esta colocação foi uma total inversão da relação usual que se tinha, já que tirava o “poder de cura” das mãos do médico ou terapeuta e o trazia de volta ao Ser em Terapia. Muito embora, no oriente esta seja uma premissa milenar, aqui no ocidente, só agora estamos vivenciando algo parecido.
As implicações de sua teoria foram expostas em um livro maravilhoso de 1961 intitulado Tornar-se Pessoa, um livro que projetou Rogers no cenário norte-americano e, posteriormente internacional, já que através dele, conseguiu conversar com pessoas como nós, tirando a coisa elitista que estava caracterizando a psicoterapia até então.
Carl Rogers, muito embora tenha sido agraciado por muitos psicólogos pelo seu trabalho científico, foi também atacado por outros, que viam nele e em sua teoria uma abordagem tola e perigosa para o status e o poder que tinha, principalmente nos meios médicos que se viram forçados a reconhecer, a custas das inúmeras pesquisas sérias levadas por Rogers e seus auxiliares, que o psicólogo pode ter tanto ou mais sucesso no tratamento psicoterapêutico quanto um psiquiatra ou psicanalista. Foi, por duas vezes, eleito presidente da Associação Americana de Psicologia e recebeu desta mesma associação os prêmios de Melhor Contribuição Científica e o de Melhor Profissional.
Em seus últimos anos, dedicou-se ao seu Centro de Estudos da Pessoa, fundado nos anos 1960, escrevendo, fazendo conferências, junto a sua esposa, filhos e netos e... lógico... cuidando de seu jardim.
Carl Rogers faleceu em San Diego, Califórnia, Estados Unidos, no dia 4 de fevereiro de 1987.
Rogers, enquanto teórico da Psicologia Humanista, mantinha imensa fé no Ser Humano: “a visão por nós apresentada, implica evidentemente, que a natureza básica do ser humano, quando atua livremente, é construtiva e fidedigna”.
Uma premissa fundamental de sua teoria é o pressuposto de que as pessoas usam a sua experiência para se definir, assim, a qualidade do relacionamento com a experiência define o nível de saúde de um indivíduo, sendo que a polaridade congruência-incongruência estabelece a dinâmica deste nível.
Congruência é definia como o grau de exatidão entre o que comunico de mim em relação a como sou afetado pela experiência e o quanto consigo me perceber nela.
Crianças pequenas exibem alta congruência, expressam seus sentimentos como todo o seu ser. A ansiedade em nós já sinaliza o contrário: a incoerência.
A incoerência ocorre quando há diferenças entre a tomada de consciência, a experiência sentida e a forma como a comunicamos ( nossa expressão ). Então, por exemplo: quando vemos pessoas com os dentes cerrados, o maxilar tenso, a nuca travada que insistem em mostrar que nada está acontecendo, que lidam muito bem com contexto, estarão caminhando em direção à incoerência.
Outro exemplo: as pessoas que dizem estar passando por um período maravilhoso, mas que se mostram totalmente entediadas, deprimidas e adoecendo muito frequentemente.
Quando a incongruência está entre a tomada de consciência e a experiência, então damos o nome de repressão. Neste contexto, há falta de consciência pessoal. A pessoa não se vê capaz de expressar suas emoções e percepções reais em virtude do medo e de velhos hábitos de encobrimento que são difíceis de superar. E isso pode ser sentido como tensão, ansiedade ou, em situações extremas, confusão interna.

“Isto é o que, em nossa opinião, constitui o estado de alienação de si. O indivíduo faltou com a sinceridade consigo mesmo, para com a significação “organísmica” de sua experiência, a fim de conservar a consciência positiva do outro, falsificou certas experiências vividas e representou para si mesmo estas experiências com os mesmos índices de valor que tinham para o outro. Tudo isto se produziu involuntariamente, como um processo trágico e natural, alimentado durante a infância” - Rogers
Falas do tipo “não sou capaz de escolher”, “não sou capaz de tomar decisões”, “não sei o que quero”, “não sou bom o suficiente”, “não consigo ir até o fim” são falas que denunciam essa incongruência.  A ambivalência não é rara ou anormal. Não conseguir reconhecer que se está em ambivalência e não conseguir ser capaz de lidar com ela é que é perigoso. E neste processo, vai havendo gradativamente o congelamento e o enrijecimento de si mesmo.
Rogers postula que há em cada um de nós um impulso inerente em direção a sermos competentes e capazes, inteiros e integrados. E isso não é difícil de imaginar!
Pare para pensar seu em seu corpo físico há um lindo Sistema Nervoso integrando a ponta do seu dedinho do pé, coordenando as passadas de suas pernas, metabolizando o cafezinho que vc acabou de tomar, ao mesmo tempo em que regula sua respiração e a coordena com seus batimentos cardíacos enquanto seu cérebro processa todas as informações que vc está adquirindo a partir dos inputs visuais que chegam aos seus olhos... para falar o mais óbvio...
Vc acha mesmo que este mesmo processamento mental não é capaz de te colocar numa direção de autocoerência e desenvolvimento???
Rogers nos fala que assim como uma sementinha tem em si todo o potencial para tornar-se uma planta, uma árvore, uma pessoa é impelida a se tornar uma pessoa total, completa e autorrealizada.
A maior tarefa para isso é estabelecer um relacionamento mais genuíno consigo mesma. Aceitar-se a si mesma é um pré-requisito para uma aceitação mais fácil e genuína de si e dos outros. Em compensação, ser aceito por outro conduz a uma vontade cada vez maior de aceitar-se a si próprio. Este ciclo de autocorreção e autoincentivo é a forma principal pela qual se minimiza os obstáculos ao crescimento psicológico.
O caminho passa por:
·         Assumir consigo mesma o comprometimento de cultivar um processo mutável de diálogo com as experiências, permitindo-se ver-se de formas diferentes em cada uma delas. Este comprometimento a levará a descobrir novas coisas a seu respeito, reinventando-se no processo.
·         A comunicação aberta de seus sentimentos é fundamental. Ser franca com vc mesma, por inteiro, arriscando-se a ser autêntica, a ser coerente e fiel a si mesma. Não é uma questão de simplesmente colocar para fora os sentimentos. Não é disso que estamos falando. Mas, e aqui está a parte mais desafiadora do processo, ser capaz de aceitar empaticamente o que vier em troca. Aqui sim, temos a autonomia emocional de alguém autorrealizado. Os riscos são rejeição, desentendimento, sentimentos feridos. Para que vc se aceite em tudo isso, primeiro, vc precisa ter a firme percepção de que será capaz de lidar com.
·         Não aceitar papéis impostos. Rogers nos fala “viveremos de acordo com as nossas opções, com a sensibilidade orgânica mais profunda de que somos capazes, mas não seremos afeiçoados pelos desejos, pelas regras e pelos papéis que os outros insistem em impor-nos”.  Preste atenção em uma coisa: vc veio de seus pais. Vc não é seus pais.
·         O indivíduo saudável toma consciência de suas emoções, sejam ou não expressas. Sentimentos negados à consciência distorcem a percepção de e a reação às experiências que os desencadearam.
·         Esta acurada percepção de si nos levam a sensação de sermos um self que, embora interativo, está separado. Tornar-se um self separado é o compromisso de uma profunda tentativa de descobrir e aceitar a natureza total de quem se é. É o mais desafiador dos compromissos, é dedicar-se à remoção de máscaras tão logo elas se formem.
“Talvez possa aceitar-me como a pessoa ricamente variada que sou. Talvez possa ser espontaneamente mais essa pessoa. Nesse caso, poderei viver de acordo com os meus próprios valores experimentados, conquanto tenha consciência de todos os códigos da sociedade. Nesse caso, poderei ser toda esta complexidade de sentimentos, significados e valores – livre para dar o amor, a raiva, a ternura que existem em mim. É possível então que eu venha a ser um participante real de uma união, porque estou em vias de ser uma pessoa real. E espero poder incentivar-me a seguir o caminho na direção doe uma personalidade única, que eu gostaria imensamente de compartilhar comigo mesma e com os outros com quem me encontrar.”


Beijos, pessoal !

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